Como é bom ter Deus dentro de casa!

 Quando o sol ainda não havia cessado o brilho,
quando a tarde engolia aos poucos
as cores do dia e despejava sobre a terra
os primeiros retalhos de sombra
eu vi que Deus veio assentar-se
perto do fogão de lenha da minha casa.
Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça
e buscou um copo de água no pote de barro
que ficava num lugar de sombra constante.

Ele tinha feições de homem feliz, realizado
parecia imerso na alegria que é própria
de quem cumpriu a sina do dia e que agora
recolhe a alegria cotidiana que lhe cabe.

Eu olhava e pensava: 
Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom viver essa hora da vida
em que tenho direito de ter um Deus só pra mim. 
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos,
puxar a caneta do seu bolso
e pedir que ele desenhasse um relógio
bem bonito no seu braço
mas aquele homem não era Deus,
aquele homem era o meu pai
e foi assim que descobri
que meu pai com seu jeito finito de ser Deus
revelava-me Deus com seu jeito infinito de ser homem.

Fábio de Melo
Poema extraído do CD Sou um Zé da Silva e outros tantos - Paulinas


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